O Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu a
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4300, ajuizada pela Associação
dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg), que contesta dispositivos
das resoluções 80 e 81 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Editadas em
junho deste ano, as normas buscam disciplinar a realização de concursos
para a investidura e remoção nos cartórios e registros de notas e
protestos, bem como os efeitos jurídicos decorrentes das investiduras que
foram realizadas conforme a legislação dos estados e do Distrito Federal
antes da regulação da atividade notarial e de registro pela Lei 8.935/94.
Na petição inicial, a entidade de classe pede que a Corte declare
inconstitucionais artigos de ambas as normas, inclusive com a concessão de
medida liminar para suspender parcialmente os efeitos de tais
dispositivos. A associação alega que algumas disposições veiculadas nas
resoluções 80 e 81 são inconstitucionais e outras têm de ser interpretadas
de acordo com a Carta Magna.
O artigo 1° da Resolução 80 determina que seja declarada a vacância dos
serviços notariais e de registro cujos atuais responsáveis não tenham sido
investidos por meio de concurso público de provas e títulos específico. A
respeito desse dispositivo, a Anoreg argumenta que o CNJ extrapolou sua
competência normativa fixada no texto constitucional, ao confrontar a Lei
8.935/94, invadindo competência assinalada ao Senado Federal e ao STF.
Já o artigo 3º dispõe que seja preservada a situação dos atuais
responsáveis pelos cartórios e registros, que continuarão respondendo
pelas unidades de forma precária e interina, até o preenchimento das
respectivas unidades por novos delegados aprovados em concurso de provas e
títulos.
Em relação a esse aspecto, no entendimento da Anoreg, o CNJ não fixou o
prévio contraditório e a ampla defesa, ao declarar vagas as serventias
notariais e registrais que tenham sido providas por pessoas não aprovadas
em seleção pública. Dessa forma, a entidade ressalta que se essa
“confiança” deixar de existir antes da conclusão do concurso, “o seu
antigo ocupante poderá ser afastado ad nutum [a qualquer momento] da
atividade”, sem prévio contraditório, e “em clara ofensa ao art. 5º, LV,
da Constituição da República”.
Além disso, segundo a associação, o Conselho resolveu inovar a ordem
jurídica ao prever que o provimento das vagas por remoção nas serventias
notariais e registrais aconteça por meio de concurso de provas e títulos,
em contraposição à Lei 10.506/02, editada pelo Congresso Nacional, a qual
determina que os concursos de remoção sejam realizados apenas mediante
exame dos títulos obtidos pelos candidatos.
Resolução 81
Alguns dispositivos da Resolução 81 – que dispõe sobre os concursos
públicos de provas e títulos, para a outorga das delegações de notas e de
registro, e minuta de edital – também são contestados pela Anoreg. Na ADI,
a associação demonstra que o artigo 236 da Carta Magna prevê que as
atividades notariais e registrais são exercidas em caráter privado, por
delegação do Poder Público, sendo que a lei definirá as suas atividades e
a fiscalização dos seus atos pelo Poder Judiciário.
Seguindo essa linha, a entidade defende que tais atividades sejam,
portanto, de titularidade do Estado, mais especificamente do Poder
Executivo dos estados, e que se caracterizem como utilidade jurídica e
função administrativa. Isso significa que, na visão da Anoreg, cabe ao
Poder Judiciário realizar o concurso público de provimento e de remoção e,
“ao Executivo cabe prover os candidatos no exercício das funções
administrativas circunscritas na serventia e determinar a realização de
concurso”.
Pontos contestados
Ao todo, a Anoreg contesta na ADI 4300 nove artigos da Resolução 80, quais
sejam: art. 1º, caput e §§ 1º e 2°; art. 2º, caput e parágrafo único; art.
3°, caput e § 4º; art. 4°, parágrafo único, “c”; art. 5°, caput; art. 7º,
§ 2º, “f”; art. 9º, §§ 1º e 2º; art. 10, caput e parágrafo único; e art.
11, caput. Em relação à Resolução 81, são contestados os seis seguintes
dispositivos: art. 1º, caput e § 2º; art. 2º, caput; art. 3º, caput; art.
5º, caput e parágrafo único; art. 8º, caput; e art. 14, caput.
Processos relacionados:
ADI 4300. |