Antes de vender os
terrenos do Noroeste, o governo terá de unificar os registros dos lotes em
cartório e transferi-los para a Terracap, além de renegociar a hipoteca da
área oferecida em garantia ao BNDES
Para tirar do papel o projeto do Setor Noroeste, o novo bairro de
Brasília, o Governo do Distrito Federal se apressa e tenta cumprir todas
as regras urbanísticas, fundiárias e ambientais. Mas a lista de pendências
que o governo tem a resolver é extensa. O Correio teve acesso às
exigências que a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) terá que
cumprir para começar a vender os terrenos às construtoras. Além da licença
ambiental, que ainda não foi emitida, faltam certidões e, principalmente,
um aval do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
que tem uma hipoteca de toda a área do setor.
O Noroeste vai ocupar 4 milhões de metros quadrados. Entretanto, essa área
hoje está dividida em 11 diferentes matrículas em cartório, o que
inviabiliza a venda das projeções. É preciso unificar todas essas
matrículas em um único registro. Entre esses lotes existentes hoje, três
estão em nome de particulares e outros três estão em nome de órgãos do GDF:
a Brasília Tur, a Polícia Militar e a Fundação Hospitalar. Mesmo sendo de
propriedade do governo local, é preciso que cada um desses terrenos passe
para o patrimônio da Terracap. Depois de resolvidas essas pendências, as
11 matrículas devem ser fundidas em um único registro, que em seguida será
subdividido entre as 220 futuras projeções do novo bairro.
Quanto aos lotes particulares, será preciso desapropriar essas áreas. Para
isso, a Terracap terá que cancelar a licitação de venda dos terrenos ou o
governo poderá também assinar um decreto desapropriando a área. O decreto
deve ser a forma mais rápida de resolver o problema. Nossa área jurídica
está analisando essa questão para resolvermos o problema o mais rápido
possível, explica a diretora técnica da Terracap, Ivelise Longhi.
O terreno que vai abrigar o Noroeste, próximo à Asa Norte, ainda precisa
da liberação da licença de instalação para a conclusão do registro. O
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) concedeu a licença prévia ao empreendimento em 2006, o que
autorizou o GDF a elaborar os estudos e projetos do novo setor. Mas, para
o início das obras de infra-estrutura e para a venda, é preciso a licença
de instalação.
O pedido de licenciamento ambiental já está em análise no Ibama. Já
enviamos ao Ibama os projetos de pavimentação e drenagem. Faltam apenas os
projetos de água, luz e esgoto, que vamos entregar já na semana que vem,
explica Ivelise Longhi. A área deve ser licenciada pelo órgão ambiental do
governo federal porque está dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do
Planalto Central.
O superintendente do Ibama, Francisco Palhares, explica que aguarda apenas
o GDF apresentar a documentação pendente para concluir a análise do pedido
de licenciamento da área do Noroeste. Já recebemos alguns documentos, que
estão sob análise do setor de licenciamento. Mas precisamos da
complementação das informações para concluirmos o processo, explica
Palhares.
Liberação
O que pode atrasar o início das licitações é a questão da hipoteca da
área. Em 1992, o GDF começou a construir o metrô de Brasília e, para isso,
pegou um empréstimo de R$ 260 milhões. Como garantia, o governo ofereceu
ao BNDES a hipoteca da área onde será construído o Noroeste. Para
registrar o terreno em cartório e vender os lotes, será preciso um aval do
banco.
No mês passado, representantes do GDF foram ao Rio de Janeiro para
negociar a liberação da área. A proposta do governo local é trocar a
hipoteca de toda a área por uma nova, referente a duas quadras do futuro
bairro. O gerente de projetos do Noroeste, Luiz Carlos Attiê, acredita que
a proposta será aceita. Quando a área foi hipotecada, não havia nenhuma
infra-estrutura. Com a elaboração dos projetos, o terreno ficou muito
valorizado. Podemos trocar a hipoteca por duas quadras, por exemplo.
Assim, depois de quitar o empréstimo, o GDF poderá licitar essas áreas. É
uma prática normal essa troca, explica Attiê.
O BNDES informou que o assunto será analisado pelos departamentos jurídico
e de engenharia. Até o dia 19 de fevereiro, o banco vai divulgar a decisão
oficial. Mas vamos pedir uma antecipação desse prazo. Como o governador
quer lançar a licitação até 28 de fevereiro, é preciso acelerar o
processo. E depois do aval do BNDES, ainda teremos que aguardar a
conclusão do registro para podermos fazer a venda, acrescenta Luiz Carlos
Attiê.
Para conseguir o registro, o GDF terá que fazer também um decreto para
empenhar o valor necessário à implementação de toda a infra-estrutura do
novo bairro, como rede de água, esgoto, pavimentação e iluminação do Setor
Noroeste. O documento deve ser feito em consonância com as empresas
públicas, como as companhias de Saneamento Ambiental (Caesb), Energética
de Brasília (CEB) e Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Essa espécie
de caução é uma determinação do artigo 18 da Lei 6.766/79, conhecida como
Lei do Parcelamento.
Para concluir o processo de registro, a Terracap ainda terá que apresentar
ao 2º Ofício de Registro de Imóveis certidões negativas de tributos
federais, de ações reais referentes ao imóvel e de ações penais. Além
disso, são necessárias certidões dos cartórios de protestos de títulos.
Estamos avançando com relação a todas essas pendências paralelamente.
Ninguém da equipe de trabalho do Noroeste terá folga no carnaval. Nossa
determinação é adiantar tudo o que pudermos, afirma Luiz Carlos Attiê.
A RESOLVER
Hipoteca da área no BNDES
Lotes em nome de particulares, que precisam ser desapropriados
Lotes em nome de outros órgãos do GDF, que precisam passar para o
patrimônio da Terracap
Fusão das 11 matrículas existentes atualmente para depois dividir o
terreno todo em projeções
Liberação da licença de instalação, atualmente em análise pelo Ibama
Entrega de certidões negativas
Elaboração de um decreto determinando o empenho do valor necessário para
obras de infra-estrutura
Correio Braziliense
|